Os pesquisadores do Instituto Butantan receberam na tarde de hoje o aval definitivo da Anvisa (AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria) e vão se reunir na próxima segunda-feira (5) para definir os Ășltimos detalhes e começar a testar o soro anticovid em humanos infectados pelo novo coronavĂrus.
A Anvisa anunciou na semana retrasada a liberação dos testes pelo Butantan, embora tenha requisitado mais documentos e comprovações cientĂficas da eficĂĄcia do soro ao instituto paulista, que correu para viabilizar os registros. O aval definitivo veio na sexta-feira (2).
Na segunda-feira, os pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do composto vão se reunir pela manhã para definir os detalhes no ensaio clĂnico.
Sabe-se que o fĂĄrmaco serĂĄ aplicado em pessoas infectadas pela doença que estão internadas em hospitais em estado moderado ou grave. Mas cabe aos cientistas, agora, definir quais serão os grupos etĂĄrios dos voluntĂĄrios, a quantidade de doses que serão aplicadas em cada pessoa e em quais hospitais os testes serão realizados.
Nos bastidores do Butantan, o avanço do soro anticovid é comemorado tanto quanto o desenvolvimento das vacinas CoronaVac e Butanvac. Isso porque o soro, caso se prove eficiente em humanos, serĂĄ o Ășnico medicamento comprovadamente eficaz contra a covid-19.
Até agora, o soro só foi testado em animais, como hamsters, e atingiu todas as expectativas dos cientistas em relação à eficĂĄcia. Os animais, infectados pelo vĂrus e após desenvolverem um caso grave, receberam uma dose do soro e apresentaram melhora clĂnica "muito significativa", principalmente no combate à inflação nos pulmões, segundo uma fonte que coordena os estudos.
Imbróglio com Anvisa
A liberação dos testes do soro em humanos veio após semanas de mal estar entre os cientistas do Butantan e a Anvisa, que revisou os métodos de avaliação dos soros neste ano, em meio à pandemia, e requisitou dezenas de novos documentos. O desgaste chegou ao ponto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), cobrar publicamente a agĂȘncia regulatória pela liberação do remédio.
Os cientistas tiveram de realizar novos testes para atender aos pedidos da agĂȘncia, atrasando o processo de liberação em cerca de dois meses.
O incômodo dos cientistas do laboratório paulista se deu, principalmente, porque nunca haviam encarado tantos entraves para a liberação de um soro. O Butantan produz soros —principalmente para picadas de serpentes— hĂĄ mais de 120 anos e é um laboratório de referĂȘncia na produção desses compostos na América Latina.
Os estudos clĂnicos do soro estão sendo conduzidos pela diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinsk Tavassi, pelo infectologista Esper KallĂĄs, da USP (Universidade de São Paulo), e pelo nefrologista José Medina, ambos integrantes do Centro de ContingĂȘncia do CoronavĂrus em São Paulo.
Fonte: UOL