Nicarágua chama a consultas embaixadores de Argentina, México, Colômbia e Costa Rica

Por Rogerio Magno em 10/08/2021 às 08:46:51
O governo da Nicarágua persegue opositores políticos e inabilitou partidos. O presidente, Daniel Ortega, um ex-guerrilheiro de 75 anos, está no poder desde 2007, e pretende ser eleito novamente no dia 7 de novembro. Governo da Nicarágua prendeu 13 políticos da oposição nas últimas duas semanas

O governo da Nicarágua chamou para consultas embaixadores nicaraguenses que trabalhavam em quatro países de uma vez só. Essa é uma forma diplomática que os líderes de nações usam para sinalizar ao governo de um outro país que estão descontentes com a relação.

Na segunda-feira (9), a vice-presidente e primeira-dama da Nicarágua, Rosario Murillo, afirmou que seu país estava chamando a consultas os embaixadores da Argentina, Colômbia, México e Costa Rica "em reciprocidade a chamados similares dos governos citados". Esses países criticaram a onda de prisões de líderes da oposição na Nicarágua (veja mais abaixo).

Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega (dir.), sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo (esq.) e filha Camila Ortega (cen.) em celebração dos 40 anos da revolução sandinista, foto de junho de 2019

Inti Ocon/AFP

Argentina e México retiraram seus embaixadores de Manágua, a capital da Nicarágua, em meados de junho. Costa Rica e Colômbia suspenderam as nomeações de seus representantes no país no mês passado.

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Murillo, a primeira-dama, criticou "os constantes e indevidos apontamentos desrespeitosos, intrometidos e intervencionistas em nossos assuntos internos, por parte das máximas autoridades de cada um desses países" sobre questões que dizem respeito ao povo e ao governo da Nicarágua.

A Nicarágua expressou sua rejeição "categórica" ao que chamou de "imitação caricatural" daqueles que "assumiram funções que ninguém lhes atribuiu".

Entenda o que acontece na Nicarágua

Há eleições marcadas na Nicarágua no dia 7 de novembro. O atual presidente, Daniel Ortega, um ex-guerrilheiro de 75 anos, está no poder desde 2007, após duas reeleições sucessivas. Para isso, precisou alterar as leis que o impediam de se perpetuar no poder.

Na liderança da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), o mandatário aspira permanecer no poder por mais cinco anos junto com Murillo, de 70 anos, na vice-presidência desde 2017.

Os adversários do presidente Ortega têm sido criminalizados e presos para que não possam participar do pleito. Sete aspirantes à presidência e outros opositores foram presos —foram pelo menos 32 líderes da oposição detidos desde junho. A maioria deles foi presa por "traição" contra a pátria, segundo leis aprovadas pelo Congresso controlado pela situação.

Uma das últimas medidas do sandinismo foi inabilitar do principal bloco opositor, liderado pelo partido Cidadãos pela Liberdade (CXL), que tinha conseguido inscrever candidatos para enfrentar Ortega.

Após a inabilitação do CxL, o bloco opositor denominado Coalizão Nacional, integrado por partidos e organizações da sociedade civil, tentará se reagrupar para "estabelecer uma posição clara" diante da comunidade internacional e dizer que não reconhece o processo eleitoral.

Como o bloco não é reconhecido legalmente, os seus membros são impedidos de apresentar candidatos.

Em um comunicado lido em conferência virtual, os líderes da coalizão afirmaram que as eleições são o caminho para resolver a crise no país, mas que eles não apoiam ˜a farsa eleitoral que só dará como resultado a perpetuação de Ortega e Murillo no poder".

O líder da coalizão, Luis Fley, que está no exílio, afirmou que é hora de deixar de lado posições pessoais e pediu a unidade dos partidos que não pertencem a este bloco para "pôr a Nicarágua em primeiro lugar e pensar que neste país não vai haver vida para ninguém se Ortega se mantiver no poder".

Críticas da União Europeia e dos EUA

A União Europeia sancionou com restrições migratórias e financeiras Murillo, seu filho Juan Carlos e seis outros funcionários do governo por sua responsabilidade nas "graves violações dos direitos humanos" na Nicarágua.

A medida se soma a outras tomadas pelos Estados Unidos e Canadá contra funcionários do governo Ortega, em protesto contra a repressão que o governo nicaraguense mantém contra seus oponentes desde o início das manifestações antigovernamentais em 2018.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou, em um comunicado, que "Ortega quer ganhar as eleições sem concorrência".

A União Europeia considera que "a oposição foi eliminada" e que os nicaraguenses estão sendo privados do direito ao voto "em eleições confiáveis, inclusivas e transparentes", afirmou Borrell.

Manifestantes mostram nomes de pessoas mortas durante protestos contra o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, em 2 de novembro de 2019

Oswaldo Rivas/Reuters

"A decisão, implementada pelo Conselho Supremo Eleitoral de destituir de personalidade jurídica o último partido político da oposição restante antes das eleições de novembro destroça as perspectivas de um processo eleitoral legítimo e confiável", disse ele.

A Espanha, por sua vez, lamentou a inabilitação do CXL e pediu para que o governo da Nicarágua crie uma autoridade eleitoral independente, imparcial e que não seja controlada pelo partido de governo após considerar que "só um processo eleitoral confiável" pode oferecer uma saída para a crise social, política e econômica que a Nicarágua vive.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse no sábado que as eleições de novembro na Nicarágua "perderam toda a credibilidade" devido às manobras "autocráticas" de Ortega.

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Fonte: G1

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