Vale do Panjshir: conheça a única província que ainda resiste ao Talibã no Afeganistão

Por Rogerio Magno em 20/08/2021 às 11:05:11
Ahmoud Massoud, filho de herói da resistência à invasão soviética, pediu apoio à comunidade internacional. Amrullah Saleh, vice-presidente que diz ser o presidente interino, está na região. VÍDEO: Quem é Ahmad Massoud, que pode se tornar líder da resistência ao Talibã no Afeganistão

Um vale montanhoso a cerca de duas horas de carro da capital Cabul é a única das 34 províncias do Afeganistão que está livre do controle do Talibã. E é no vale do Panjshir, que significa "Cinco leões", que está se formando o que parece ser uma resistência ao grupo extremista.

A capital de Panjshir é Bazarak, que fica a apenas 120 km a nordeste de Cabul, e a região é um vale íngreme e montanhoso de difícil acesso que nem os soviéticos nem os talibãs conseguiram conquistar (veja mais abaixo).

O Talibã conquistou praticamente todo o Afeganistão em apenas dez dias, mas ainda não tentou invadir a província.

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É lá que estão dois líderes que se levantaram contra a tomada do poder: Ahmad Massoud, filho de 32 anos do lendário comandante Massoud, e Amrullah Saleh, primeiro vice-presidente afegão que diz ser o "legítimo presidente interino" do país.

Também está na região o general Bismillah Mohammadi, ministro da Defesa do governo deposto.

Saleh, que era um dos assessores mais próximos do pai de Massoud, afirmou na terça-feira (17) que "em hipótese alguma se curvaria" aos "terroristas do Talibã" e pediu: "Junte-se à resistência".

Massoud tem usado a imprensa ocidental para pedir ajuda para combater o Talibã: nos últimos dias, ele escreveu no jornal americano "The Washington Post" e na revista francesa "La Règle du jeu" ("A regra do jogo", em tradução livre), fundada pelo escritor Bernard Henri-Lévy (veja mais abaixo).

Resistência à URSS e ao Talibã

Ahmad Massoud é filho do comandante Ahmad Shah Massoud, herói da resistência anti-soviética no Afeganistão que ganhou o apelido de "Leão de Panjshir". Seus seguidores o chamam de Amir Sahib-e Shahid, que significa "nosso amado comandante martirizado".

Além da União Soviética, na década de 80, o Talibã também não conseguiu conquistar o Vale do Panjshir quando controlaram o país, entre 1996 e 2001.

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Vista do vale do rio Panjshir, em foto de 21 de maio de 2011, tirada do ponto de vista da tumba de Ahmad Shah Massoud. Estudante de engenharia da Universidade de Cabul, Massoud se tornou líder militar que desempenhou importante papel na expulsão do exército soviético do Afeganistão

Master Sgt. Michael O'Connor

Massoud pai foi assassinado pela Al-Qaeda na província de Takhar em 2001, dois dias antes do ataque terrorista do 11 de Setembro que desencadeou a invasão americana ao Afeganistão.

Devido aos inimigos em comum, a província de Panjshir serviu como reduto da Aliança do Norte, grupo armado que se aliou aos EUA durante a invasão de 2001 para tirar o Talibã do poder e expulsar a Al-Qaeda do país.

Pedido de ajuda internacional

Massoud filho escreveu no "Washington Post" que está "pronto para seguir os passos do pai" e fez um apelo por armas e munições, dizendo ter combatentes em número suficiente para se opor ao Talibã (veja mais sobre Ahmad Massoud no vídeo no começo desta reportagem).

"Escrevo do Vale do Panjshir hoje, pronto para seguir os passos de meu pai, com lutadores mujahidins que estão preparados para enfrentar mais uma vez o Talibã", afirmou Massoud.

"O Talibã não é um problema apenas para o povo afegão. Sob o controle do Talibã, o Afeganistão sem dúvida se tornará o marco zero do terrorismo islâmico radical", escreveu o jovem de 32 anos. "Ataques contra as democracias serão tramadas aqui mais uma vez".

Ahmad Massoud, filho do herói da resistência anti-soviética Ahmad Shah Massoud, que foi morto pelo Talibã em 2001, pede ajuda estrangeira para organizar resistência ao grupo extremista a partir da província de Panjshir, no Afeganistão. Foto de 5 de setembro de 2019.

Mohammad Ismail/Reuters

Mahdi, um membro da resistência, afirmou à RFI (Rádio França Internacional) que "se o Talibã assumir o poder de maneira duradoura, formar um governo e impor suas leis, haverá um fluxo ainda maior de pessoas deslocadas do resto do Afeganistão em direção a Panjshir".

Ele alertou que a província está cercada pelo Talibã. “A qualquer momento podemos nos encontrar sitiados e confrontados com um ataque em grande escala. O Talibã pode fechar estradas a fim de impedir o abastecimento da província, especialmente de ajuda humanitária".

"O espaço aéreo está aberto", destacou o rebelde. "Portanto, é possível que aviões de países vizinhos entreguem ajuda. Continuamos com muita esperança, mas não podemos fazer isso sozinhos. Precisamos da ajuda e do apoio de outros países".

"É uma causa comum, contra a injustiça, contra o mal, contra a opressão. E não se trata apenas do Afeganistão, mas do mundo todo. Precisamos de ajuda urgente", afirmou Mahdi.

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Fonte: G1

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