Barbados elegeu sua primeira presidente poucas semanas antes de a ilha se tornar uma república e deixar de reconhecer monarca britânica como sua chefe de estado. Rainha Elizabeth II cumprimenta a então governadora-geral de Barbados, Sandra Mason, em foto de 20 de março de 2018
Reprodução/Família Real Britânica
Um paraíso incrustado no meio do Caribe, a ilha de Barbados caminha rapidamente para se tornar uma república e se afastar de vez da Coroa britânica.
Nesta quarta-feira (20) o território de quase 290 mil habitantes elegeu, pela primeira vez na história, uma presidente que substituirá a rainha Elizabeth II como chefe de Estado.
No ano passado, a ilha já havia sinalizado sua intenção de se separar da Commonwealth, grupo de nações que integram a chamada Comunidade Britânica.
A Commonwealth surgiu do império britânico no meio do século 20 e a rainha Elizabeth II tem sido sua chefe desde o início do seu reinado, em 1952.
Praia de água cristalina em Barbados
Orion Pires / G1
Quem será a presidente?
Seguindo os ritos anunciados para a implantação da república, em 30 de novembro, o parlamento de Barbados elegeu, de forma indireta, Sandra Mason, de 72 anos, como presidente.
Primeira mulher a integrar o tribunal de apelações da Suprema Corte, ela se tornou, em 2018, a representante oficial da rainha na ilha, sob o cargo de governadora-geral.
"A Câmara e o Senado se reuniram para eleger a primeira presidente de Barbados, outro marco histórico no caminho para a república", celebrou o governo do país em uma rede social.
Com a eleição de uma presidente, Elizabeth II perderá sua soberania sobre Barbados. O "divórcio" com a Coroa britânica foi anunciado em setembro de 2020 pela própria governadora-geral.
"Após obter a independência há mais de meio século, nosso país não pode duvidar de sua capacidade para se autogovernar", disse Mason em um discurso na capital Bridgetown.
Sandra Mason conversa com a rainha Elizabeth II em foto de 20 de março de 2018
Família Real Britânica
Países que já abandonaram a Coroa
Em 30 de novembro, quando completa 55 anos da independência dos britânicos, Barbados se tornará uma república, mas não será a primeira a ter deixado a coroa entre as nações caribenhas.
A Guiana – antiga Guiana Britânica, que faz fronteira com o Brasil – tomou este caminho ainda em 1970, em menos de quatro anos após conquistar sua independência.
Em seguida, ainda na década de 1970 mais duas nações abandonaram a monarquia para se firmarem como república: Trinidad e Tobago, em 1976; e Dominica em 1978.
Destino turístico
Barbados, uma joia turística das Pequenas Antilhas, é especialmente popular entre a alta sociedade anglo-saxã.
A ilha mais oriental do Caribe, 300 km ao leste da Venezuela, tem uma superfície de apenas 430 km2. Em 2019, abrigava cerca de 287.000 habitantes, segundo o Banco Mundial.
Antes da pandemia de covid-19, mais de um milhão de turistas visitavam o país por ano, famoso por suas praias paradisíacas e suas águas cristalinas.
Passado colonial
No ano passado, Barbados anunciou sua intenção de que a rainha Elizabeth II deixe de ser sua chefe de Estado em novembro de 2021, uma decisão que pretende deixar para trás qualquer vestígio de seu passado colonial.
A governadora-geral da ilha caribenha, Sandra Mason, anunciou essa decisão durante o discurso conhecido como Discurso do Trono.
"Chegou o momento de deixar nosso passado colonial completamente para trás", disse Mason, que falou em nome da primeira-ministra, Mia Mottley.
Mais de meio século após conquistar a independência do Reino Unido, "os habitantes de Barbados querem um chefe de Estado de Barbados", acrescentou. "Esta é a declaração máxima de confiança em quem somos e no que somos capazes de conseguir".
Mason disse que "Barbados dará o próximo passo lógico à soberania total e se tornará uma república" quando a ilha celebrar seu 55o aniversário de independência, em 30 de novembro de 2021.
Questionado sobre esta decisão, um porta-voz do Palácio de Buckingham disse: "Este é um assunto do governo e do povo de Barbados".
A rainha Elizabeth II é chefe de Estado do Reino Unido e outros 15 países (Antígua e Barbuda, Austrália, Bahamas, Barbados, Belize, Canadá, Granada, Jamaica, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Ilhas Salomão e Tuvalu) que estiveram sob mandato do Reino Unido.
Muitos habitantes de Barbados pediram no passado que a rainha Elizabeth fosse retirada do cargo de chefe de Estado devido a suas persistentes associações imperialistas, e vários dos líderes da ilha defendem torná-la uma república.