A extrema direita se postula para ingressar no Congresso argentino

Por Rogerio Magno em 09/11/2021 às 06:30:21
Simpatizante de Trump e Bolsonaro, o candidato Javier Milei desponta como guru antissistema, com retórica inflamada contra a classe política, o socialismo e a intervenção do Estado Imagem de Javier Milei de uma conta de redes sociais

Reprodução/instagram.com/javiermilei

“Não me deixem sozinho, me ajudem a salvar este país.” O apelo melodramático encerrou a campanha do candidato que no domingo deverá fazer a extrema direita entrar no Congresso argentino, pela primeira vez desde a redemocratização. O economista ultraliberal Javier Milei se identifica com o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Trump, ao desprezar a classe política tradicional, abusando da retórica inflamada contra o socialismo, o comunismo, o impacto das mudanças climáticas, a quarentena e o aborto.

É desbocado, brada contra os impostos e arrebata o eleitorado jovem com ideias que proclama serem libertárias e não de extrema direita. Seu partido, A Liberdade Avança, tem 13% das intenções de votos na capital argentina nas eleições legislativas deste domingo.

O repertório do candidato histriônico, que aos 50 anos mais parece um cover de roqueiro, despenteado e vestido de couro preto, é vasto. Ele seduz os que estão cansados da fórmula bipartidária que movimenta a política argentina. As pesquisas mostram que metade dos argentinos rejeita as duas principais alianças -- Frente de Todos, do atual governo, e Juntos pela Mudança, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri.

Milei aproveita esse espaço e entra como guru antissistema e inimigo do Estado. “A rebelião natural é ser liberal. O Estado arruína tudo em que se mete.” Desdenha qualquer intervenção estatal em uma sociedade soberana, baseada no mercado livre e na propriedade privada. Subsídios e controle de preços, por exemplo, não fazem parte de seu glossário.

Imagem de redes sociais de Javier Milei mostram o candidato, que foi goleiro profissional. durante um ato de campanha

Reprodução/instagram.com/javiermilei

Se eleito, promete renunciar ao salário de deputado e sorteá-lo por meio da Loteria Nacional: quem ganhar, leva o seu ordenado do mês. Defende o porte de armas, assim como a descriminalização das drogas. Ao mesmo tempo que irrita feministas, defende o amor livre e o sexo a três: “Cada um faz o que quer de sua vida. O Estado não tem que se meter nisso”, repete.

“A verdade é que hoje ele é a figura emergente da política argentina. Não tanto pela intenção de voto, mas pela articulação de um novo discurso, adequado a este cenário de decepções e descontentamentos políticos”, escreveu o cientista político Diego M. Raus, professor das universidades de Lanús e de Buenos Aires.

A estimativa, de acordo com as pesquisas, é que A Liberdade Avança conquiste pelo menos dois deputados no Congresso Nacional. O partido reúne libertários, integrantes da extrema direita, remanescentes do regime militar que comandou o país entre 1976 e 1983 e ex-combatentes da Guerra das Malvinas.

Número dois da lista de Milei, a advogada Victoria Villarruel nega a existência do terrorismo de Estado durante a ditadura. Ela descarta a cifra de 30 mil desaparecidos políticos e defende uma revisão histórica do período, transformando algozes em vítimas -- no caso, militares e agentes de segurança.

“Os terroristas têm direitos humanos e suas vítimas não”, costuma dizer Villarruel, de 46 anos, neta e filha de militares, que preside o Centro de Estudos Legais sobre Terrorismo e suas Vítimas.

Partidários da onda comandada por Javier Milei xingam políticos e gritam bordões como “a esquerda está com medo.” Ele repete que veio para acordar leões e não para guiar cordeiros. Seus rugidos têm assustado os adversários.

Fonte: G1

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