União Africana condena onda de golpes de Estado no continente

Por Rogerio Magno em 06/02/2022 às 19:21:45
Em apenas um ano, quatro países tiveram governos suspensos: Mali, Guiné, Sudão e Burkina Faso. O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, discursa durante jantar de gala oferecido pelo governo do país aos participantes da 35ª cúpula da União Africana, em Adis Abeba.

Eduardo Soteras/AFP

Líderes africanos reunidos neste domingo (6) na capital da Etiópia, Adis Abeba, durante a 35ª cúpula de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA) condenaram “inequivocamente” a recente "onda" de golpes militares no continente. A discussão sobre o estatuto de Israel como “membro observador” foi retirada da pauta.

"Todos condenaram o padrão, o ressurgimento e o ciclo de mudanças inconstitucionais de governo", afirmou Bankole Adeoye, Comissário para os Assuntos Políticos, Paz e Segurança.

"Em um ano, quatro países tiveram governos suspensos: Mali, Guiné, Sudão e Burkina Faso”, ele destacou, acrescentando que a UA "não vai tolerar qualquer tipo de golpe militar”.

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Guerra no país anfitrião

Tanque danificado durante confrontos na Etiópia. Foto de 1º de julho de 2021.

Reuters

Com sede na capital etíope, a UA encontra-se numa situação particularmente delicada. Não está claro se a cúpula, cuja maioria das sessões foi realizada a portas fechadas, abordou a questão da guerra no país anfitrião.

O norte da Etiópia é devastado, há 15 meses, por um conflito entre forças pró-governo e rebeldes da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que já custou milhares de vidas e, segundo a ONU, levou centenas de milhares de pessoas a passarem fome.

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Bankole Adeoye assegurou que "todas as situações de conflito estavam na agenda da cúpula".

Faki Mahamat esperou até agosto passado – nove meses após o início dos conflitos – para nomear o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo como enviado especial para garantir um cessar-fogo. A Etiópia também continuou a fazer parte do Conselho de Paz e Segurança da UA durante o conflito. No entanto, o país não foi reconduzido para um novo mandato.

Adeoye negou que a UA tenha demorado a reagir. “Era impossível a UA não se envolver numa situação dessas, precisamente dada a sua situação na Etiópia”, afirmou. Obasanjo deve visitar as áreas afetadas pela guerra esta semana.

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Debate sobre Israel suspenso

A União Africana optou por não dar continuidade às discussões sobre um assunto altamente sensível: o credenciamento de Israel à organização. Esta decisão, tomada em julho por Moussa Faki, divide a entidade.

Vários Estados membros, incluindo África do Sul e Argélia, ficaram indignados, considerando que esta escolha vai contra as declarações da organização de apoio aos Territórios Palestinos.

Os dois países pressionaram para colocar o tema na agenda da cúpula. Um debate marcado para a tarde deste domingo, no entanto, foi "suspenso", de acordo com fontes diplomáticas, e um comitê será criado "para estudar o assunto".

Este comitê incluirá a África do Sul e a Argélia, mas também Ruanda e a República Democrática do Congo, que apoiam a decisão de Faki, assim como Camarões e Nigéria.

Em um discurso, no sábado (5), o primeiro-ministro palestino Mohammed Shtayyeh pediu aos líderes africanos que retirem esse credenciamento à Israel.

O adiamento do debate afasta a possibilidade de uma votação que, segundo muitos analistas, poderia ter causado uma divisão sem precedentes na história da UA, que comemora o seu 20º aniversário.

(Com informações da AFP)

Fonte: G1

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