Após passar por 4 países em 14 dias, brasileiro que morava na Ucrânia consegue chegar a São Paulo

Por Rogerio Magno em 12/03/2022 às 02:03:00
Casado com uma ucraniana, Walther Lang decidiu deixar a Ucrânia já no segundo dia de guerra. Mas só conseguiu desembarcar no Brasil nesta quinta-feira (10), após passar por nove cidades e, no meio do caminho, testar positivo para Covid-19. O brasileiro Walther Lang, de 47 anos, conseguiu fugir da Ucrânia e retornar para o Brasil nesta quinta-feira (10), mas para isso teve que encarar passagem por nove cidades e quatro países em 14 dias de viagem.

Casado com uma ucraniana, o artista digital vivia havia oito anos entre Brasil e Ucrânia. Nos últimos quatro, fixou residência em Kiev com a esposa, Oksana Kuiantseva. Com o início dos ataques à capital, Lang decidiu deixar a Ucrânia já no segundo dia de guerra, 25 de fevereiro, e começou a longa jornada para chegar em São Paulo, onde mora seu irmão.

A primeira etapa foi uma viagem de 26 horas de carro rumo à cidade de Truskavets, em uma região montanhosa do país, conhecida por suas estações de esqui. “"A escolha de ir para lá foi porque tem muitos hotéis nessa região. Foi o único local mais seguro de chegar e ter um quarto para poder ficar”, contou o brasileiro.

Walther e Oksana se separaram na viagem; ela quis ficar em seu país para ajudar

Walther Lang/Arquivo Pessoal

Dali, Lang decidiu pegar um trem para Lviv, cidade que fica perto da divisa com a Polônia, na tentativa de conseguir cruzar a fronteira. “Na estação de trem, a disputa a noite inteira foi por tomadas elétricas. Tem muito celular e poucas tomadas”, disse.

Foi também na estação de trem de Lviv, já no 4º dia de viagem, onde o brasileiro encontrou um bicho de pelúcia — provavelmente deixado para trás por uma criança. Ele acabou se tornando o único companheiro de Walther durante os próximos dias

A esposa do brasileiro decidiu ficar em Lviv, atuando como voluntária para ajudar o exército ucraniano. O casal acordou que Walther seguiria viagem rumo ao Brasil. "Foi uma decisão muito difícil concordar que ele iria, e eu ficaria. No último dia ele estava me implorando pra ir junto com ele e ficar segura", conta Oksana, que também não quis deixar a mãe dela, que se recusou a deixar o país.

De Lviv, o brasileiro partiu em um ônibus de ajuda humanitária rumo à Polônia. Após algumas horas de viagem, o grupo chegou ao posto policial que fica na fronteira com o país vizinho. Com os documentos aprovados, eles estavam autorizados a seguir viagem. Mas o ônibus não dava partida. “Foram duas horas até ele funcionar. Imagina a cena: o ônibus estava a 20 centímetros da faixa que divide a Ucrânia da Polônia, e a gente nessa faixa e o ônibus não pegando”, conta.

Walther conseguiu embarcar no voo da FAB em Lisboa

Walther Lang/Arquivo Pessoal

Polônia

Ao chegar na Polônia, o artista digital conseguiu ir em uma van até a capital, Varsóvia. Ficou hospedado no hostel de um brasileiro. Foi onde conseguiu internet para comprar as passagens de avião com destino ao Brasil. Com três conexões, ele chegaria ao destino final, São Paulo, em 37 horas.

Lang partiu de Varsóvia para a primeira parada: Bari, na Itália. Este já era o seu 6º dia de viagem. “Aqui começo a me dar conta de que existe outro mundo também, pessoas normais no aeroporto mexendo em seus celulares. Contraste total com Lviv, a gente lutando para encontrar uma tomada, esperando o celular carregar.”

No mesmo dia, ele partiu para Milão, onde passou a noite no aeroporto. Os funcionários abriram o segundo andar do local, que estava fechado, especialmente para Walther e outras pessoas que também estavam fugindo da guerra poderem descansar.

Walther Lang demorou 14 dias para chegar a São Paulo

GloboNews

De Milão, Walther pegou o voo para Lisboa — sua última parada antes de São Paulo. Mas, para embarcar para o Brasil, foi necessário realizar um teste de Covid-19. E o resultado foi positivo.

A doença adiou em mais seis dias o retorno de Lang para o Brasil. Na primeira noite após o resultado, ele dormiu em uma sala especial dentro do aeroporto de Lisboa. No dia seguinte, conseguiu um apartamento para ficar cumprir isolamento. “Por coincidência do destino, a dona do apartamento é ucraniana. Tive dificuldade em achar um local que me aceitasse por estar confirmado com Covid”, contou.

Da Ucrânia, Walther saiu com duas calças, duas blusas e uma jaqueta no corpo — para suportar o inverno de temperaturas negativas. Na mochila, apenas mais um suéter, alguns itens básicos de higiene e o computador. Foi com esses itens que o brasileiro passou seis dias isolado na capital portuguesa.

Na última quarta-feira (9), o voo da FAB que foi resgatar brasileiros chegou na Europa. Lang conseguiu uma vaga na parada que o avião fez em Lisboa, e deixou o apartamento às pressas.

Na viagem de volta para o Brasil, a primeira parada foi em Recife, onde Walther — que ainda tinha somente as roupas de inverno consigo — conseguiu uma camiseta de manga curta, doada por um funcionário do aeroporto.

Algumas horas depois, o voo da FAB partiu em direção ao destino final: Brasília. De lá, no fim da noite, o brasileiro embarcou em um voo comercial com destino ao Aeroporto de Guarulhos. Ele desembarcou na quinta (10), às 23h35, exatas duas semanas após o início de sua fuga.

Walther e Oksana dizem que planos a longo prazo são difíceis de serem feitos. A única certeza é a de Oksana: “quando o dia da vitória chegar, eu vou tirar umas férias no Brasil e aproveitar a vida.”

Fonte: G1

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