O governo dos EUA acenou com cerca de US$ 50 milhões (R$ 260 milhões) para cooperação ambiental com o Brasil, cifra que os negociadores brasileiros definiram como decepcionante. Por isso, o valor não foi citado no comunicado conjunto da visita de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Casa Branca, nesta sexta (10).
Dada toda a ênfase na importância da questão ambiental e o anúncio de que os EUA passarão a fazer parte do Fundo Amazônia, o governo brasileiro achou que os americanos ofereceriam um montante mais significativo. O valor não seria apenas para a iniciativa, mas também para outros tipos de parceria.
O governo brasileiro ficou bem mais animado com a sinalização de investidores privados, como Bezos Earth Fund, do bilionário Jeff Bezos, Rainforest Trust, Andes Amazon Fund/Wyss Foundation e International Conservation Fund of Canada, com quem autoridades do país se reuniram em Washington.
Por meio de sua assessoria, o Itamaraty, porém, considerou a oferta "muito positiva" e destacou que se tratou de um gesto unilateral dos americanos. "Gestos são importantes na diplomacia, e esse foi um gesto de reconhecimento pelo esforço do governo na área ambiental nesses pouco mais de 30 dias de gestão."
Criado em 2008, o fundo atua com pagamentos baseados em resultados de conservação da floresta amazônica. As doações acontecem quando há queda nas taxas de desmatamento, com base nos dados do Inpe. Os pagamentos são voluntários e podem ser feitos por outros governos e também por empresas.
Outro ponto em que o Brasil não conseguiu fazer prevalecer sua vontade diante dos americanos foi na maneira de tratar a Guerra da Ucrânia no comunicado final. Versão preliminar do texto não condenava diretamente a Rússia pelo conflito, em razão da objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. Antes, a declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA em questões regionais e globais, como o conflito no Leste Europeu.
O governo brasileiro, porém, cedeu à pressão e aceitou uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional, pelas mortes e pelos ataques à infraestrutura essencial do país e cita os efeitos do conflito sobre a economia mundial.
Lula também disse ter conversado com Biden sobre a necessidade de criar um clube de países não envolvidos na guerra para buscar a paz. "Senti da parte do Biden a mesma preocupação, porque ninguém quer que essa guerra continue, e é preciso ter parceiros capazes de construir um grupo de negociadores que os dois lados acreditem e que os dois lados possam compreender e terminar essa guerra."
Biden também teria expressado apoio na reforma do Conselho de Segurança da ONU para expandir o número de países com assento permanente e poder de veto para países da América Latina e da África, pleito antigo do governo Lula. De acordo com os governos de ambos os países, o petista também convidou o democrata para visitar o Brasil, e o presidente americano aceitou, sem data confirmada.
Fonte: PATRÍCIA CAMPOS MELLO E THIAGO AMÂNCIO - FOLHAPRESS