Depoimento de mĂ©dica foi crucial em condenação de RogĂ©rio Marinho

Senador foi condenado em 1ÂȘ instância à perda do mandato em ação que o acusa de improbidade administrativa

Por Rogerio Magno em 13/06/2023 às 10:12:21
Senador Rogério Marinho (PL-RN) - Foto: Edilson Rodrigues / Senado

Senador Rogério Marinho (PL-RN) - Foto: Edilson Rodrigues / Senado

O caso envolvendo a nomeação de uma médica na Câmara Municipal de Natal no perĂ­odo em que Rogério Marinho (PL) era presidente da Casa foi a peça-chave para a condenação do atual senador da RepĂșblica à perda do mandato no âmbito de uma ação de improbidade administrativa que investiga suposto esquema de nomeação de "funcionĂĄrios fantasmas".

Embora Marinho tenha sido diretamente responsĂĄvel por outras nomeações, segundo o Ministério PĂșblico, foi na inclusão da médica no quadro de funcionĂĄrios da CMN que o órgão ministerial encontrou provas suficientes para caracterizar o dolo na conduta do agente pĂșblico, fator essencial para uma condenação em processo de improbidade administrativa.

De acordo com o processo, a médica identificada como Angélica Barros foi inserida no quadro funcional da Câmara sem o consentimento dela. Inicialmente a profissional havia sido chamada, sem contrato, para atender pacientes em uma clĂ­nica denominada "Mais", que pertencia ao então vereador e ficava localizada no bairro de Cidade da Esperança.

A profissional trabalhou no local de 2004 a fevereiro de 2007 e foi chamada por uma irmã de Rogério Marinho. Na época, a clĂ­nica particular fornecia atendimento médico gratuito aos eleitores do então vereador.

Em vez de receber o salĂĄrio da própria unidade, porém, a médica recebia os valores diretamente da Câmara, isso sem o conhecimento dela. Ela afirma que inicialmente recebia o salĂĄrio em espécie, mas que depois passou a receber por meio de depósito em conta, mas que no extrato não vinha especificada a informação de que o crédito era feito pela Câmara de Natal.

Em depoimento prestado em juĂ­zo, Angélica esclareceu "que não trabalhou para a Câmara Municipal de Natal" no perĂ­odo, mas que fazia atendimentos ginecológicos apenas na clĂ­nica do então vereador.

Mesmo quando deixou o Rio Grande do Norte e foi morar em Porto Alegre-RS, a médica continuou nomeada na Câmara de Natal, mas só descobriu o fato a partir de um telefonema de um jornalista que, ao apurar as informações sobre o suposto esquema, informou-a que ela era "funcionĂĄria fantasma" da Casa.

A médica também disse em depoimento que nessa mesma época descobriu que tinha uma pendĂȘncia na Receita Federal em seu nome. Quando foi saber do que se tratava, foi informada que recebeu a referida remuneração paga pela Câmara e que os valores não estavam declarados no Imposto de Renda.

Conforme consta nos autos, durante a vigĂȘncia da nomeação de Angélica, levada a efeito por Marinho, ela recebeu a importância de R$ 13.614,64 entre outubro de 2005 e novembro de 2006. JĂĄ em uma segunda nomeação, realizada pelo então vereador Dickson Nasser, foi pago, em nome da dita servidora, o montante de R$ 7.330,96, referente à remuneração dos meses de janeiro a julho de 2007. O total, nas duas ocasiões, foi de R$ 20.945,60.

"Denoto que a instrução processual trouxe à luz do dia o fato de que o demandado incluiu, "de fachada", a servidora ANGÉLICA, a qual não tinha ciĂȘncia do vĂ­nculo mantido com a Casa Legislativa e jamais chegou a exercer, regularmente, as atribuições dos cargos para os quais foi nomeada, o que evidencia a mĂĄ-fé e o dolo que revestem a conduta do réu", diz a decisão proferida no Ășltimo dia 31 de maio.

Ainda conforme a sentença, as provas arroladas aos autos demonstram a prĂĄtica do ato de improbidade que findou causando dano ao erĂĄrio municipal por parte de Rogério Marinho, "ante a evidente mĂĄ-fé e a desonestidade que pautaram esse cenĂĄrio sombrio de modelo remuneratório e de inserção funcional da pessoa ANGÉLICA GOMES MAIA DE BARROS, nos quadros de servidores da Câmara Municipal de Natal/RN".

Ao defender a condenação de Rogério no processo, o Ministério PĂșblico do RN argumentou que o então vereador foi "beneficiĂĄrio da fraude envolvendo seu nome, seja enquanto Presidente da Câmara, seja após a renĂșncia ao mandato de vereador, em janeiro de 2007".

Ainda segundo Angélica, após a repercussão do caso, ela chegou a receber uma ligação de um advogado dizendo que estava a serviço de Rogério Marinho. Na ocasião, o profissional pediu que a médica confirmasse à Justiça que era funcionĂĄria da Câmara. Ela, por sua vez, rechaçou a orientação e disse que iria falar a verdade.

Diante das acusações contra o congressista, Rogério Marinho foi condenado à perda da função pĂșblica, suspensão dos direitos polĂ­ticos por oito anos, pagamento de multa civil, além ter sido proibido de contratar com o poder pĂșblico ou receber benefĂ­cios ou incentivos fiscais ou creditĂ­cios pelo prazo de oito anos. Entretanto, como a decisão não tem efeitos imediatos, o senador pode recorrer durante o curso do mandato.

Fonte: Portal Agora RN

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