Alto comando militar dos EUA temia que Trump desse um golpe, diz livro

Por Rogerio Magno em 15/07/2021 às 18:58:34
Segundo chefe do Estado-Maior, militares do alto comando planejavam renúncia coletiva caso Donald Trump insistisse em impedir a posse de Joe Biden. O militar chegou a comparar a atitude do então presidente com um golpe nazista. O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa para apoiadores enquanto o Congresso se reúne para certificar a vitória de Biden

Evan Vucci/AP Photo

Mark Milley, chefe do alto comando militar dos Estados Unidos, temia que o então presidente Donald Trump desse um golpe e abolisse a Constituição para se manter no poder após perder a eleição para Joe Biden.

A informação está no livro "I Alone Can Fix It" — "Eu consigo consertar isso sozinho", em uma tradução livre — dos jornalistas Carol Leonnig e Philip Rucker, do jornal americano "The Washington Post". Trechos da obra foram divulgados nesta quinta-feira (15).

Fardado, o general Mark Milley (direita) acompanha o presidente Donald Trump e sua comitiva em caminhada até a igreja St. John, em Washington, no dia 1 de junho

AP Photo/Patrick Semansky

Para o militar, que ocupa o cargo de chefe do Estado-Maior dos EUA, a recusa do republicano em aceitar a derrota para Joe Biden nas eleições de novembro de 2020 era um sinal de sua intenção de manter o poder de qualquer forma.

De acordo com o livro, Milley comparou o momento de tensão no entorno de Trump à tomada do Reichstag — o Parlamento da Alemanha — por Adolf Hitler, em 1933. No episódio, Hitler aproveitou um incêndio suspeito no congresso alemão para suspender as liberdades civis e concentrar a autoridade em seu governo, preparando o cenário para a consolidação nazista.

Foto de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio dos EUA, mostra policiais conversando com apoiadores do então presidente americano, Donald Trump, incluindo Jacob Chansley (à direita), do lado de fora do plenário do Senado

Manuel Balce Ceneta/AP

Quando Trump convocou seus partidários para marchar em Washington em novembro, Milley, nomeado pelo presidente, expressou preocupação de que ele estava implantando "camisas marrons nas ruas", indica o livro, aludindo à violenta milícia de Hitler.

Trump persistiu em afirmar, sem provas, que uma fraude roubou um segundo mandato dele, convocando outra manifestação em 6 de janeiro, quando seus apoiadores atacaram o Congresso.

Renúncia coletiva

Guarda Nacional reforça a segurança em Washington após invasão ao Capitólio e uma semana antes da posse de Biden

Brandon Bell/Reuters

Milley então planejou uma renúncia coletiva com outros altos funcionários para deixar claro que eles não aceitariam um golpe de Trump.

"Eles podem tentar, mas não terão sucesso", disse Milley a seus assessores, de acordo com o livro. "Você não pode fazer isso sem os militares. Você não pode fazer isso sem a CIA e o FBI. Somos os caras com as armas", acrescentou.

O livro, que deve ser lançado na próxima semana, é a visão mais perturbadora de como a recusa de Trump em aceitar a derrota foi percebida dentro do governo.

Milley já havia resistido ao desejo de Trump de convocar os militares para enfrentar os protestos anti-racismo no início do ano.

Isso o levou a desconfiar das motivações de Trump, especialmente após a eleição, quando o presidente começou a substituir altos funcionários, inclusive no Pentágono, por partidários próximos, embora ele tivesse apenas algumas semanas no cargo.

"Milley disse a sua equipe que acreditava que Trump estava provocando um motim, possivelmente esperando por uma desculpa para invocar a Lei de Insurreição e chamar os militares", diz o livro.

Trump nega tentativa de golpe

Pessoas se escondem em galeria do Capitólio durante invasão de apoiadores de Donald Trump

Andrew Harnik/AP

Em um comunicado, Trump repetiu suas afirmações infundadas sobre fraude eleitoral, mas negou ter ameaçado um golpe. O republicano chamou Milley de alguém que busca favores da "esquerda radical".

"Se eu fosse dar um golpe, uma das últimas pessoas com quem gostaria de fazer isso seria o general Mark Milley", disse Trump.

VÍDEOS: a invasão ao Capitólio por apoiadores de Trump

Fonte: G1

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