Bebidas energéticas: onde está o perigo?

Por Rogerio Magno em 12/06/2022 às 11:05:22
Foto: Alex Régis

Foto: Alex Régis

As bebidas energéticas foram criadas na Ásia, se popularizaram na Europa a partir dos anos 80, e hoje estão em todo lugar. Todas elas com a promessa de oferecer mais energia e disposição para encarar o dia-a-dia, seja numa festa, em casa, ou no trabalho. O problema é que, com a popularidade, vieram os excessos. As substâncias que compõem essas bebidas podem não fazer bem ao organismo se forem consumidas constantemente e em grandes quantidades. Do bar da balada até a prateleira do supermercado, é preciso estar atento às formas como os energéticos agem sobre o corpo.

O último levantamento divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) atestam a força das bebidas energéticas no mercado nacional. Os dados, referentes ao período de 2010 a 2020, apontam que a produção de energéticos passou de aproximadamente 63 milhões de litros para 151 milhões, enquanto o consumo subiu de 300 ml ao ano por habitante para 700 ml no país.

A busca por mais energia para treinar ou dançar tem um grande apelo às pessoas que possuem um cotidiano intenso ou não querem sentir sono em determinados momentos. O produto promete deixar o indivíduo acordado e gerando mais energia para o corpo. O segredo está na composição: além de carboidratos em quantidades variáveis, as bebidas energéticas possuem estimulantes tais como cafeína e guaraná, podendo conter ainda ginseng taurina, carnitina, creatina, glucoronolactona, proteínas, vitaminas, sódio e outros minerais.

O cardiologista Antônio Amorim Filho explica as propriedades dos ingredientes principais dos energéticos. "A cafeína possui uma ação estimulante no sistema nervoso central, podendo inibir o sono e melhorar a concentração, deixando dessa forma o indivíduo mais alerta. Já a taurina é um aminoácido que tem diversas funções, dentre elas podemos citar os efeitos antioxidantes e anti-inflamatório nos músculos", diz, ressaltando que a taurina está diretamente relacionada ao mecanismo de contração dos músculos do corpo, inclusive do coração.

Todas as bebidas energéticas contêm princípios ativos excitatórios para o sistema nervoso central (taurina, cafeína, açúcar). Tudo o que tem esse potencial pode provocar depressão e ansiedade, aumento de pressão, de percepção de esforço, fadiga, diminuição de sono, além de compulsão e fome excessiva. Uma lata de energético possui, em média, até 80mg de cafeína, mais que o dobro de uma xícara de café de 30ml, que tem 35mg da substância.

O cardiologista reprova o uso indiscriminado e excessivo dessas bebidas, afim de evitar os efeitos colaterais decorrentes. "Como os energéticos têm um efeito estimulante no sistema nervoso central, o indivíduo pode apresentar quadro de insônia ou de taquicardia, o coração mais 'acelerado' que o normal. Irritabilidade é também um efeito colateral. É muito importante ter cautela no uso dessas substâncias para evitar problemas maiores", afirma.

Há quem também use energéticos para dar "um gás" nos exercícios físicos, situação que Antônio Amorim não recomenda. "Ocasionalmente atendo no pronto-socorro cardiológico, pacientes com queixas de taquicardia após uso desses suplementos, alguns deles chegam com arritmias. A recomendação para o uso deve partir de profissionais como nutricionistas e educador físico, minimizando os riscos dos efeitos colaterais", diz. Se o paciente já apresenta alguma queixa ou doença cardiológica, é importante consultar o cardiologista sobre a possibilidade do uso dessas substâncias.

O cardiologista alerta que pessoas portadoras de hipertensão arterial e arritmias cardíacas devem evitar o consumo de energéticos. Há outros riscos atrelados, por exemplo, à privação do sono. A longo prazo ela altera a memória, a atenção e o comportamento, podendo aumentar os riscos cardiovasculares e de obesidade ao passar do tempo.

A propriedade estimulante dos energéticos também não os tornam recomendáveis para quem possui algum transtorno psicológico ou psiquiátrico, já que o consumo regular da bebida pode contribuir para a piora do quadro gradativamente. Se a pessoa já tem um perfil ansioso, a tendência é ficar ainda mais acelerada e com mais ansiedade.

A mistura de energéticos com bebidas alcoólicas, algo bastante comum na noite, pode proporcionar o efeito desejado no momento, mas convém ficar atento em dobro. Segundo Antônio Amorim, só o uso excessivo do álcool já tem relação direta com o desenvolvimento de algumas arritmias cardíacas. "Quando se faz essa mistura, álcool mais energético, estamos diante de uma combinação que potencializa a chance disso ocorrer, principalmente se for em excesso. Esses efeitos podem ocorrer inclusive nos indivíduos jovens que não apresentam histórico de queixas cardiológicas", ressalta.

A popularidade crescente da bebida, chegando a públicos cada vez mais jovens, chamou a atenção das autoridades em relação aos menores de idade. Está tramitando na Câmara de Deputados um projeto de lei que pretende proibir a venda, oferta e consumo de bebidas energéticas a menores de 18 anos (PL 455/15). "Da mesma forma que nos adultos, o uso dessas substâncias nas crianças e adolescentes poderá ocasionar arritmias cardíacas, principalmente em alguns que já apresentem uma predisposição. Isso pode ser exacerbado pelo uso excessivo", ressaltou o cardiologista.

Doses homeopáticas

Os componentes que fazem a fama dos energéticos também são os mesmos que exigem atenção dos consumidores. A nutricionista Fátima Nunes ressalta que pessoas com quadro de estresse deveriam evitar essas bebidas, especialmente pela cafeína, já que na maioria das vezes ela pode provocar insônia, arritmia, taquicardia e hipertensão – sintomas bastante comuns entre indivíduos ansiosos, estafados, ou irritados. Ela ressalta que até os carboidratos presentes nessas bebidas podem atrapalhar quem está querendo perder peso.

Segundo a nutricionista, é possível obter os efeitos energéticos semelhantes com bebidas mais saudáveis. "Usando em diluição correta, os chás podem ter o mesmo efeito sem causar danos à saúde, com ingredientes como cavalinha, dente de leão e hibisco, que têm um efeito termogênico excelente", diz. Fátima ressalta ainda uma dieta que funcionaria bem para o sistema nervoso central, rica em magnésio, zinco e ômega 3. É o que pode ser encontrado em folhas de couve, linhaça, chia, azeite, abacate, e açaí sem xarope.

A constituição física da pessoa também influi nos efeitos dos energéticos. "As pessoas mais magras têm uma sensibilidade maior, já aquelas com excesso de peso até podem se beneficiar, mas sempre atentas à cafeína na composição", diz. E para quando os efeitos ruins da bebida chegarem, Fátima recomenda rebater com aquela que nunca falha: água. "É bom tomar bastante água, mas é melhor evitar que chegue a esse ponto, claro", conclui.

Fonte: Tribuna do Norte

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