Com o aumento de ocorrências de furtos e roubos de celulares, uma tática recente utilizada pelos donos dos aparelhos tem sido adotar um segundo celular, normalmente de menor qualidade, para utilizar como celular reserva. O repórter possuía um "celular do bandido", mas não estava com ele no momento — e acredita que não adiantaria.
"Eu tenho um, mas incrivelmente dias antes eu emprestei para um amigo que estava precisando. No dia do fato eu não estava com esse celular reserva", comenta. "Mas da forma como aconteceu, ele não sairia com esse celular reserva, porque como ele me apagou com o mata-leão, ele começou a mexer na minha roupa e acharia o celular oficial", diz Gustavo. Sobre as agressões, o jornalista diz que viveu um "um sentimento de quase-morte".
Sesed rebate dados
Para a Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), os dados não refletem a realidade. De acordo com a pasta, a ferramenta oficial utilizada pelo órgão para registrar as ocorrências é o Procedimento Policial Eletrônico (PPE). Esse sistema já existia nos anos analisados pelo Anuário, mas não atendia todas as delegacias do Estado, segundo o Coordenador de Informática e Estatística e Análise Criminal da Sesed, Gleidson Paulino.
"Existia uma base anterior, que é a base da Sesed, a BO Online. Essa base começou a ser migrada para a nova plataforma em 2017 e só terminou em agosto do ano passado", afirma. "Qualquer análise de 2017 até agosto do ano passado é prejudicada, porque a gente só pode comparar com a base completa. É um sistema que vai migrando."
Paulino também diz que não é possível comparar a base antiga, já que os dados estão "prejudicados". "Uma parte migrou para a base atual e outra ficou. Tem mais de 500 mil registros na base antiga que ainda não foram integralizados, isso é um problema. A dificuldade de migrar essa rede não é uma coisa simples", pondera.
Titular da Sesed, coronel Francisco Araújo concorda. "Se em 2018 nós não tínhamos o PPE, claro que não tínhamos condições de tabular. Muitas coisas eram subnotificadas". Segundo Araújo, os mais de 10 mil celulares furtados ou roubados registrados no Rio Grande do Norte em 2021 são "um número muito selvagem, muito cruel". Para ele, "se não tinha nada e de uma hora para outra apareceu 10 mil, está claro que era porque não tinha o registro. E porque não tinha o registro? Porque em lugar nenhum do Brasil tinha", afirma.
Por outro lado, o PPE é um sistema nacional utilizado por todas as Secretarias de Segurança estaduais. Mas, a maioria dos Estados viram os números de furto e roubo de celulares caírem ao passo que o RN crescia. De acordo com o secretário, isso se deve porque "outros Estados já tinham o processo eletrônico adiantado".
Araújo diz que o RN demorou a investir na implementação do Procedimento por uma "dificuldade de equipamentos, de máquinas e de computadores". Apesar disso, reconhece que antes havia uma subnotificação.
Além disso, segundo Gleidson Paulino, durante a pandemia uma nova plataforma foi criada. A Delegacia Virtual (Devir) reúne as ocorrências feitas online e integra aos números do PPE. "A vantagem da plataforma atual é que nós temos todos os dados qualitativos, que antes não tínhamos."
Embora a secretaria rebata, as informações do Anuário foram disponibilizadas pela própria pasta ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É o que comprova o relatório enviado pela Sesed à organização, com base num pedido feito por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
No documento, que a TRIBUNA DO NORTE teve acesso, a secretaria diz que "o presente relatório trás [sic] em seu conteúdo informações estatísticas dos crimes de roubo, furto e estelionato oriundos do Estado do Rio Grande do Norte." A Sesed registra que a fonte foi por meio do PPE e a extração dos dados através do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). Os números fornecidos pela secretaria estão de acordo com as informações contidas dentro do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.