Participação feminina nas facções

A divulgação das prisões de mulheres no RN tem revelado uma característica marcante: a presença feminina na liderança de facções criminosas. Nos últimos meses, duas mulheres suspeitas de participarem da cadeia de comando de uma organização criminosa no Rio Grande do Norte foram presas. Em 3 de março, Kivia Majara Câmara Saldanha, de 44 anos, conhecida como "Patroa", foi presa no bairro de Santos Reis, na zona leste de Natal.

A mais recente prisão de liderança feminina ocorreu no domingo (2) no Rio de Janeiro, onde a Polícia Civil prendeu a traficante Andreza Cristina Lima Leitão, conhecida como "Bibi Perigosa" e "Patroa", apontada como a articuladora dos ataques criminosos ocorridos em março no RN. De acordo com o delegado Erick Gomes, da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor) da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte (PCRN), na facção Sindicato do Crime do RN (SDC) há dezenas de mulheres envolvidas, chamadas de "cunhadinhas", termo utilizado para se referir às faccionadas cujos companheiros também são membros da organização criminosa. Algumas dessas mulheres acabam alcançando posições de destaque dentro da organização, e existem duas funções de liderança que são ocupadas por elas.

"As mulheres estão sim galgando determinados espaços. Basicamente, elas desempenham duas funções na facção: a de "cadastreira", que é responsável pelo cadastramento de faccionados que ingressam na organização, e a de "caixa", que lida com o financeiro (elas são mais zelosas com o dinheiro)", explica o delegado Erick Gomes.

Para essa função, "várias mulheres são recrutadas para fazer a divisão das contas e para manter quantias menores, a fim de não chamar a atenção da Receita, da Polícia Judiciária Civil e do Ministério Público", complementa.

O delegado explica ainda que o aumento da participação das mulheres no crime é um movimento natural e aponta outras funções que elas desempenham: "Há muito tempo, bandidos faccionados ou não, têm utilizado mulheres para fazer apoio, meio de campo, logística, gerenciamento de patrimônio, transporte de recados, contratação de advogados e muitas outras funções, com maior ou menor envolvimento", diz o delegado Erick Gomes.

Ocupação de vagas femininas nos presídios do RN é de 83,6%

Ocupação de vagas femininas nos presídios do RN é de 83,6% – Foto: : Istockphoto

O Rio Grande do Norte tem, de acordo com a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, 385 vagas para mulheres no sistema prisional potiguar. Ainda de acordo com a pasta, são 322 mulheres presas atualmente no RN, o que corresponde a 83,6% de ocupação.

De acordo com a SEAP, ainda neste ano de 2023 serão abertas 76 vagas em módulo de segurança na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, após uma reforma e ampliação orçada em R$ 1,097 milhão, no entanto, nenhuma delas será para mulheres.

Também para 2023 está prevista a construção de uma nova unidade prisional, em local e com número de vagas ainda indefinidos, mas com orçamento de R$ 14 milhões. Para essa nova prisão, todas as vagas também serão destinadas ao sexo masculino.