Mudanças climáticas apontam para a necessidade de um novo olhar

No RN, cidades baixas como Guamaré, Macau, Galinhos e Areia Branca são as mais impactadas pelo avanço do mar

Por Rogerio Magno em 24/01/2024 às 09:44:22
Cidades como Galinhos, na região da Costa Branca, enfrentam risco constante de inundações costeiras - Foto: Reprodução

Cidades como Galinhos, na região da Costa Branca, enfrentam risco constante de inundações costeiras - Foto: Reprodução

Análises com projeções futuras indicam que, com base em modelos climáticos e observações dos últimos 50 anos, cidades costeiras podem enfrentar a submersão de 25 a 30% de suas áreas em um prazo relativamente curto. Essas previsões, longe de serem alarmantes, são um chamado à ação para o poder público, instigando uma preocupação mais profunda com a adaptação dessas comunidades às novas realidades climáticas.

A orla marítima do Rio Grande do Norte, marcada por praias arenosas, é palco de uma intensa dinâmica entre processos erosivos e a iminência de inundação marinha. Professor Doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Venerando Amaro, traz à tona uma análise aprofundada sobre as mudanças climáticas e seus impactos cruciais na região.

Para compreender o cenário atual, o professor destaca a relação intrínseca entre o processo erosivo nas praias arenosas e o fenômeno da inundação marinha: À medida que a erosão avança, cedendo terreno para o mar, o professor enfatiza o conceito de "retração do continente", onde as forças hidrodinâmicas desempenham um papel crucial nessa "dança entre a terra e o oceano".
O docente ressalta influência das forças hidrodinâmicas, alimentadas por ondas, marés e ventos, enquanto revela modelos que apontam para uma intensificação dessas energias. "Essa intensificação, associada às alterações climáticas, resulta em um aumento médio do nível do mar no estado potiguar que supera significativamente a média global".

Através de décadas de observações, Amaro observa uma taxa de erosão acelerada, ultrapassando meio metro por ano em setores específicos. "É nesse contexto que surgem os desafios, não apenas em relação à modificação na elevação média do mar, mas também na perda territorial, onde poucos milímetros anuais acumulados se traduzem em avanços de dezenas de metros sobre o continente".

Setores urbanos, especialmente em cidades importantes como Natal, enfrentam perdas expressivas na orla marítima. A erosão anual crescente, atingindo em alguns lugares 1,5 a 1,3 metros, é um fenômeno que exige medidas imediatas. Em áreas urbanas, a necessidade de defesas como enrocamentos e muros de contenção se torna vital para a preservação de infraestruturas críticas, como calçadões.

O professor alerta para a preocupante realidade em que a taxa de erosão ultrapassa meio metro por ano em alguns setores urbanos: "Essa situação é particularmente alarmante, pois esses são locais onde cidades importantes, como Natal, estão situadas. Aqui, surge a necessidade premente de intervenções estratégicas para preservar não apenas o patrimônio natural, mas também o tecido urbano dessas localidades".

Venerano projeta um olhar para o futuro, especialmente para cidades costeiras como Guamaré, Macau, Galinhos e Areia Branca: "Essas cidades, baixas em termos topográficos e próximas ao nível médio do mar, enfrentam o risco constante de inundações costeiras. Modelos elaborados através de estudos indicam que, nos próximos dez a vinte anos, algumas dessas cidades podem perder significativas porcentagens de suas áreas para o avanço do mar".

O fenômeno das ressacas, que se intensificam com a perda de praias para o processo erosivo, contribui para a vulnerabilidade dessas cidades. A situação é agravada em situações de marés altas, onde o avanço do mar se torna iminente, invadindo áreas urbanas e causando inundações costeiras. Eustáquio destaca que essas previsões não visam alarmar, mas sim servir de alerta para ações preventivas e adaptativas.

Venerando explica que a expressão "tempestade perfeita" emerge ao contemplarmos a combinação de intensificação da erosão, eventos extremos de precipitação e inundações marinhas: "Essa sinergia de fatores não apenas compromete a infraestrutura, mas também representa um risco iminente para a economia, especialmente em cidades costeiras focadas em atividades ligadas ao oceano, como o turismo".

O professor destaca a necessidade crítica de adaptação em cidades costeiras, que muitas vezes são o epicentro de atividades econômicas centradas no mar. Ele faz uma ressalva especial sobre projetos governamentais em andamento, como a expansão de portos e a instalação de obras costeiras, instigando a reflexão sobre a preparação dessas cidades para enfrentar os desafios vindouros.

As palavras do Professor Venerando Amaro projetam um panorama complexo e desafiador para a orla marítima do Rio Grande do Norte. Suas observações detalhadas e projeções são um apelo à ação, ressaltando a urgência de medidas adaptativas para enfrentar os impactos iminentes das mudanças climáticas. "Em um estado onde mais da metade da população reside em áreas costeiras, a necessidade de uma abordagem preventiva e resiliente torna-se mais premente do que nunca", enfatizou.

Fonte: Portal Diário do RN

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