Professor acredita que parentes de agentes possam ter sido sequestrados

Profissional deu aulas no presídio de Mossoró, afirma que local é feito para funcionar e descarta "fuga comprada"

Por Rogerio Magno em 20/02/2024 às 10:26:29
Professor Francisco revela rigor para entrada em unidade prisional - Foto: Anderson Régis

Professor Francisco revela rigor para entrada em unidade prisional - Foto: Anderson Régis

A fuga ocorrida na Penitenciária Federal em Mossoró, na última quarta-feira (14), inédita no âmbito dos presídios federais de segurança máxima, criados em 2006, acendeu um alerta sobre os procedimentos e facilitações no sistema.

Aquiles Perazzo, advogado criminalista e Presidente da ABRACRIM/RN, afirma que a fuga foi uma surpresa para todo campo da segurança e operadores do direito: "O fato ocorrido no Presídio Federal de Mossoró, foi um fator surpresa para todos. Pois, neste presídio federal de segurança máxima não teria como ocorrer fuga de custodiados, se tivesse cumprido todos os procedimentos estabelecidos".

O presidente da ABRACRIM/RN afirma que a possibilidade de facilitação não pode ser descartada: "Ao que podemos compreender, poderia ter havido facilitação para que a fuga tivesse êxito. Mas, não devemos e nem podemos descartar uma situação de oportunidade que os internos obtiveram por alguma circunstância alheia aos procedimentos que lhes oportunizaram uma vantagem para que a fuga tenha sido concretizada".

Realidade do Sistema
Diante da possibilidade de facilitação na fuga e a conduta dos Policiais Penais Federais, a Federação Nacional dos Policiais Penais Federais (FNPPF) e o Sindicato dos Policiais Penais do RN (Sindppen-RN) se posicionaram através de nota esclarecendo a conduta dos profissionais dentro das unidades prisionais.

A FNPPF afirmou que estão tirando conclusões e acusando de maneira precoce, sem que existam provas concretas: "A sociedade precisa saber que desde que o Sistema Penitenciário Federal começou a operar nunca registrou quaisquer problemas de segurança e ou operacional, haja vista que a atividade do policial penal federal não se limita aos presídios federais, pois os policiais penais federais participam de diversas missões no território nacional, porém, este mesmo profissional que labuta em tantas frentes com êxito de forma anônima, ganhou a mídia e ficou conhecido somente no momento em que ocorreu uma falha e está sendo acusado direta ou indiretamente de corrupção por algumas pessoas públicas e formadoras de opinião de forma totalmente irresponsável, pois as investigações ainda estão em curso e é muito cedo para chegar a esta conclusão".

Em continuidade na nota, ressalta que os foragidos se aproveitaram de uma oportunidade: "outro detalhe que não pode ser ignorado é que os foragidos não tiveram apoio externo, ou seja, não havia logística externa, eles não possuíam veículo para fuga, celulares, casa de apoio e nem rota de fuga, o que nos leva a acreditar que não houve planejamento prévio e sim uma oportunidade que foi aproveitada e obtiveram êxito".

O Sindppen-RN afirma que a sociedade e a grande mídia não acompanham a falta de estrutura desses profissionais tanto no âmbito estadual como federal: "Antes de julgar, de apontar dedo, é preciso conhecer a realidade do Sistema Prisional, seja estadual ou federal, para observar as fragilidades estruturais e a falta de atenção por parte dos governantes".

Apontam ainda que as falhas estruturais já eram de conhecimento do poder público, desde o ano de 2019: "A estrutura frágil das unidades prisionais era de conhecimento das autoridades, como as falhas nas câmeras em Mossoró, por exemplo. Existem relatórios de inteligência desde 2019 que já identificavam problemas e nada foi feito. Portanto, essas falhas devem ser apuradas, com os responsáveis identificados e devidamente punidos".

"Aposto que algum funcionário foi coagido"
O professor universitário Francisco Augusto da Cruz de Araújo deu aulas na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em uma série de posts na rede social X, ele contou sobre os rígidos protocolos de segurança pelos quais era obrigado a passar para ter acesso a unidade prisional.


"Durante 2 anos, trabalhei na Penitenciária Federal de Mossoró. Foi uma das experiências profissionais mais importantes e desafiadoras da minha vida. Fui professor e não abandonei o meu olhar de pesquisador enquanto estive lá", iniciou o relato.

Para ter acesso, Francisco detalha que é feita uma investigação total da vida: "15 dias antes de ir ao presídio, enviamos nossos documentos. São enviados para a inteligência em Brasília e colocam nossa vida de "cabeça para baixo". Fazem uma investigação profunda. Só entra quem tem nível alto de confiança. Se não mandou documentos antecipadamente, não entra".

Quanto ao material utilizado nas aulas, Francisco diz que existiam regras: "Material de estudo: tudo impresso, folhas numeradas e páginas coladas. Nada grampeado, encadernado, nada. Tudo é colado! Nada de alumínio passa do portão. Celulares no carro, pen-drives, nada. Detector de metais na entrada, nos corredores e nos pavilhões. Muito mais seguro que aeroporto. Os presos usam o tubinho interno de tinta da caneta "Bic" para escrever. Ele recebe o tubinho de manhã, é recolhido a tardezinha. Na cela, só colchão, livro, sua roupa e nada mais. Nem lençol tem, para que não se suicidem ou fujam. Uma latrina, pia e 1 chuveiro a uns 6m de altura".

O professor ainda comentou em suas postagens, que já ultrapassam a marca de 15 mil compartilhamentos, sobre a infraestrutura do presídio: "Os presos estão sempre em celas individuais e saem 2h por dia para um pátio para tomar sol. Eles podem fazer atividade física em duplas no máximo. Correr, fazer flexão, abdominal. Os mais perigosos ficam em regime diferenciado: não saem para nada. Os portões principais pesam toneladas, são a prova de explosões, resgates, tiros, etc. Eu contava brincando 20 portões da rua até a sala de aula onde encontrava os alunos. Eu coordenava 9 alunos da educação superior. Tudo muito limpo, silencioso, com câmeras em todos os corredores".

Ainda na série de posts, o educador afirma que essa fuga precisa ser apurada com rigor e acredita que houve coação para facilitação: "O presídio é feito para funcionar e funciona! Essa fuga precisa ser investigada com todo rigor. Em dois anos circulando pelos corredores, nunca vi presos perto de onde tem obras, nunca vi prestadores de serviço próximo às celas, nunca vi erro. Nunca vi coisas estranhas. Policiais penais educados, chamam os presos pelo nome, pedem licença ao entrar na sala de aula, pedem que a gente saia para retira-los e levar de volta para as celas. As Penitenciárias Federais brasileiras são referências. Uma falha como essa deve ser apurada com rigor e sem populismo penal. É preciso levar em consideração a atuação de organizações criminosas na coação de funcionários e terceirizados. Como fugir dela usando um alicate? Eu aposto na tese de que algum funcionário foi coagido, teve parente sequestrado ou alguma coisa muito grande. Não creio muito em fuga comprada. A organização criminosa não pode ser subestimada NUNCA!"

DETALHES DA UNIDADE
Os repórteres Paulo Renato Soares e Mohamed Saigg entraram na unidade e apresentaram os detalhes do interior das celas onde escaparam os dois fugitivos, e como os detentos conseguiram sair por um buraco na parede, descer pelo telhado, cortar a grade de arame do pátio e fugir sem serem notados.

A matéria exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou o controle de quem acessa a penitenciária: revistas, detectores de metais, passando por quatro pontos de checagem antes de chegar ao interior do presídio federal. A equipe teve acesso às duas celas onde houve a fuga, a número 1 e a número 2.

Ainda segundo a apuração dos jornalistas, os detentos escaparam da prisão ao removerem pedaços de ferro das paredes de suas celas para retirar luminárias. Em uma cela, foi retirado um número significativo de vergalhões debaixo de uma mesa. Após abrir um buraco na parede, eles acessaram uma área de serviço chamada "shaft", por onde passam dutos, rede elétrica e até uma escada que leva ao telhado da prisão. Vídeos mostram que, ao chegar ao teto das celas, os presos retiraram uma telha e pularam para o pátio. A área externa estava cercada por tapumes metálicos devido a obras, os detentos cortaram a grade usando um alicate deixado por operários. Câmeras de segurança registraram a fuga, sendo o único registro dos detentos durante o ocorrido, com má qualidade de imagem. Investigações estão em andamento para esclarecer os detalhes da fuga.

Fonte: Portal Diário do RN

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