Espaço comunitário criado para resistir à ditadura é alvo de crime bárbaro na periferia de SP

Por Rogerio Magno em 28/09/2021 às 19:03:52

Diego Alex, 34 anos, foi morto brutalmente com 10 facadas em frente ao espaço comunitário onde cresceu e ajudava a reconstruir: a Sede (Grêmio Recreativo Mutirão e Amizade).

O crime bárbaro aconteceu na última sexta-feira (24), em frente à sede da instituição, que fica em Sapopemba, na zona leste de São Paulo.

"O que a gente tem é que ele (Diego) percebeu que o cara ia fazer um ataque, foi atrás dele, tentou conversar, saber o porquê daquilo, e acabou sendo morto", conta Marcelo Silveira, atual presidente da Sede.


Diego Alex ao lado da esposa. Os dois tem dois filhos pequenos / Arquivo Pessoal

Ao longo dos 35 anos de história, o espaço nunca havia sido vítima de ataques de cunho ideológico - que, segundo Silveira, teria sido a causa do assassinato do colega.

A discriminação, nova e triste realidade para quem vive o espaço, começou a aparecer em meados de 2021. Em junho, coquetéis molotov foram arremessados em direção à Sede.

Pouco depois, foi encontrado cola nas fechaduras e cimento no portão de entrada. O intuito: impedir a entrada de membros e visitantes.

Em todas as ações, é notada em câmeras de segurança a presença de um rapaz encapuzado, que teria sido o autor do crime da última sexta-feira (24). A Polícia, porém, ainda investiga o suspeito.

A mesma pessoa com capuz também teria cortado o fio da câmera de segurança de um diretor da instituição - que vive em frente ao local - e escrito a palavra "Não" no seu automóvel.

Fundada para incentivar e promover atividades culturais, esportivas e educativas dentro da região de Teotônio Vilela-Sapopemba, a Sede é filha de operários e criada como um espaço de resistência ao regime militar.


Iniciativa esportiva para as crianças carentes de Sapopemba é um dos trabalhos promovidos pela Sede / SEDE

“A criação do espaço veio de uma resistência política à ditadura, vem de uma escola operária. Então, já tem esse viés ideológico de resistência. Mas aqui nunca teve partido político, nunca apoiamos ninguém. Sempre foi muito coletivo, muito comunitário, muito aberto a propostas da própria cultura local, que é o hip hop, o rap, o grafite, o grupo de mulheres, o maracatu”, explica o presidente da instituição.

Em meio à pandemia, o espaço foi contemplado pela lei Aldir Blanc, conquista da classe artística que incentivou atividades e coletivos comunitários em todo o país.

Um dos aportes para a Sede foi voltado para a restauração do espaço. Diego, “muito querido e calmo” por todos que o conheciam, era responsável por tocar a reforma.

“O Diego conhece o espaço desde criança. Participou muito dele em diversos contextos”, explica Silveira.

Além do talento na construção, o pai que deixa dois filhos era um dos principais incentivadores do grupo de Maracatu do grupo Agô Anama, muito ativo e adorado no bairro.


Em 2019, o Maracatu do grupo Agô Anama em apresentação junto à comunidade. O ritmo afro-brasileiro era uma das paixões de Diego Alex / SEDE

Além da iniciativa, outros coletivos também realizam trabalhos dentro do local. É o caso do ensino do grafite pela Família Febre, a prática do Rap pelo Arma Mentes, as aulas de futebol para crianças pelo Bairro 13, e dos encontros que discutem igualdade de gênero promovidos pelas Mulheres do Vilela.

“A gente provoca no sentido do barulho, de deixar portas abertas para LGBT´s, para mulheres, para as pessoas que saem da cadeia, a gente sempre abraça, ajuda as crianças, tem futebol para as crianças do bairro... Eu acho que isso é a intolerância que a gente participa”, finaliza Silveira.

Fonte: Brasil de Fato

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